Tecer da Vida

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por Klaus Manhart
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Tomado de paixão pela encantadora princesa Europa assim que a viu colhendo flores na praia, o deus grego Zeus elaborou um astuto plano. Transformado em touro, Zeus se aproximou dela e deixou-se acariciar. O touro parecia tão amigável que Europa subiu em seu dorso. O animal então avançou para o mar, levando a moça. Após chegarem a uma praia longínqua, Zeus transformou-se novamente em um jovem e prometeu proteger Europa em sua nova terra, batizada com o seu nome. O ardil funcionou e o casal teve três filhos.

Parece que os gregos apreciavam intrigas e peripécias. O enevoado Monte Olimpo era uma espécie de mundo melodramático. Os deuses que aí habitavam armavam ciladas uns contra os outros e sempre demonstravam fraquezas, particularmente em relação à beleza do sexo oposto. Para alcançar seus interesses, formavam alianças, lutavam e até matavam.

Estavam longe de ser perfeitos. Suas características humanas ajudam a explicar por que os mitos da Grécia antiga ainda nos satisfazem: se os deuses apresentam falhas humanas, então os homens podem se persuadir de que são capazes de ser como os deuses.

Mas isso não basta. Por que é tão fácil aceitar essa mitologia? Em parte, porque certas funções de nosso cérebro insistem em impor ordem e propósito nas coisas que o cercam e que, de outra forma, seriam enigmáticas. Por mais racionais que tentemos ser, nossos cérebros não podem resistir ao ímpeto de adotar relatos metafísicos.

Explicando o inexplicável
Os mitos são muito mais do que melodramas. As culturas antigas usavam essas histórias fabulosas para explicar os misteriosos fenômenos naturais que determinavam sua existência. Os egípcios invocavam centenas de divindades que controlavam o destino do rio Nilo e de seus povos. As águas do rio e as cheias anuais presidiam suas idéias sobre a criação, a morte e o renascimento. Segundo as crenças da época, quando a vida surgiu o oceano primordial Nun ocupava todo o Universo. Assim como os deuses criaram a vida com as águas do Nun, as cheias do Nilo fertilizaram as terras habitadas por maravilhosos animais e plantas.

As formas iniciais de práticas religiosas e espirituais datam de pelo menos 40 mil anos atrás, período que muitos pesquisadores associam à emergência do comportamento humano moderno. Várias pinturas de cavernas e escavações do período sugerem que esses povos acreditavam em poderosas forças sobrenaturais passíveis de serem invocadas em seu favor. Baseados em descobertas feitas em sítios arqueológicos como o de Qafzeh, em Israel, pesquisadores apontam que os humanos anatomicamente modernos realizavam funerais e outros ritos em período ainda mais remoto, há mais de 90 mil anos. Outros pesquisadores sustentam que os neandertais também desenvolveram um sistema de mitos e crenças religiosas.

É claro que há enorme variação entre os sistemas míticos de diferentes culturas humanas, mas todos oferecem respostas às mesmas questões fundamentais. Foi essa a conclusão alcançada pelo mitólogo americano Joseph Campbell antes de morrer em 1987. Durante décadas, Campbell pesquisou os motivos comuns de inúmeras lendas e religiões de sociedades antigas e modernas, incluindo gregos, romanos, egípcios, asiáticos e nórdicos.

Campbell apontou a existência de três atributos. Em primeiro lugar, o mito envolve uma questão existencial sobre a morte e o nascimento ou criação do mundo. Em segundo lugar, o mito contém enigmas suscitados por contradições insuperáveis: criação e destruição, vida e morte, deuses e homens. Por fim, o mito tenta reconciliar esses pólos opostos e assim atenuar nossos temores.

Histórias necessárias
Com o tempo, os relatos míticos passaram a fazer parte das crenças e religiões, influenciando, ainda hoje, o modo como os povos vivem e compreendem o mundo. Esse saber tradicional é parte de nossa cultura, razão pela qual ele ainda persiste, mesmo em sociedades progressistas e tecnológicas.

Mas talvez isso não seja tudo. No final da década de 90, o radiologista e pesquisador da religião Andrew Newberg e o psiquiatra Eugene G. d’Aquili, ambos da Universidade da Pensilvânia, começaram a estudar as fontes cerebrais dos sentimentos religiosos. Em 2001, Newberg publicou inovadores resultados (D’Aquili falecera) baseados no monitoramento da atividade cerebral de monges em meditação e de freiras franciscanas em prece.

Quando as pessoas estudadas estavam em estado de profunda contemplação religiosa, os pesquisadores registraram atividade drasticamente reduzida numa parte específica do lobo parietal. Essa região é responsável pela orientação espacial e pelo senso do próprio corpo: é ela que nos torna consciente de onde nosso corpo termina e o resto do mundo começa, permitindo assim a clara distinção entre nós e todo o resto.

Newberg e D’Aquili postularam que os sentimentos religiosos têm base neurológica, pois a ausência de bombardeamento neuronal na região parietal parecia associada à sensação de êxtase espiritual. Eles concluíram que o impulso religioso – o anseio de experiência metafísica – estava inscrito no cérebro.

Alguns pesquisadores apontam que os mitos podem ter outro fundamento biológico. Humanos, ao contrário dos animais, têm capacidade de abstração, o que permite antecipar ameaças. As respostas fisiológicas do medo podem ser desencadeadas simplesmente mediante a representação de um perigo, que prepara o corpo para “lutar ou fugir”. Essa capacidade também permite a atribuição de sentido ao sofrimento e à morte. Por exemplo, podemos raciocinar que vale a pena suportar a dor causada por uma vacina, já que os benefícios de jamais contrair a doença compensam.

Reunindo essas observações, D’Aquili cunhou o termo “imperativo cognitivo” para descrever essa função do cérebro de dar significado às coisas. Temos um desejo de ordem e sentido que é biologicamente condicionado. Diante de qualquer situação ou processo, não podemos deixar de atribuir-lhes algum propósito. Os fisiologistas Michael E. McCullough, da Universidade de Miami, e David B. Larson (recentemente falecido), então no Instituto Nacional para Pesquisa em Saúde, estenderam esse conceito ao que chamaram de anseio ontológico: a necessidade de compreender a natureza fundamental do mundo em vez de simplesmente aceitá-la como é. Segundo essa hipótese, o imperativo cognitivo força nosso cérebro a pensar incessantemente, de tal forma que não podemos deixar de elaborar relatos e mitos que expliquem os mistérios que nos rodeiam.

Causa e efeito cósmicos
A capacidade de construir explicações para os fenômenos é chamada por Newberg de “operador causal”. Trata-se de uma das oito funções analíticas gerais do cérebro, que Newberg e d’Aquili denominaram “operadores cognitivos”. Quando um operador está ativo, várias regiões do cérebro são envolvidas. Juntos, os oito operadores regulam o funcionamento da mente humana. Embora ainda controverso, esse esquema ganha aceitação cada vez maior.

O operador causal interpreta a realidade como uma cadeia de causas e efeitos. Se a campainha está tocando, provavelmente alguém está na porta. Se chover, a rua ficará molhada. Estimula a curiosidade, nos motivando a decifrar os mistérios e permitindo que elaboremos explicações empíricas para os processos naturais. Mas o operador também tenta criar relações de causa e efeito para enigmas metafísicos como a morte e a criação do Universo. As pessoas que sofrem de certos tipos de lesão no cérebro não conseguem vincular nem mesmo os eventos mais simples às suas causas.

Os outros sete operadores cognitivos proporcionam contexto para o operador causal. O operador holístico permite que percebamos o mundo como um todo. Graças a ele, compreendemos imediatamente e sem esforço que uma configuração de folhas, troncos e galhos constitui uma árvore. A atividade no lobo parietal direito é a base desse operador. O operador reducionista funciona de modo inverso, permitindo a decomposição do todo em suas partes componentes. Sua base é o hemisfério esquerdo, mais analítico. O operador de abstração deriva conceitos gerais de fatos individuais, possibilitando, por exemplo, que classifiquemos bassês, pastores e cockers em uma única categoria: cães. Estudos recentes de imageamento indicam que essa função está baseada no lobo parietal esquerdo.

O operador existencial nos dá a sensação de que os dados provenientes dos sentidos e processados pelo cérebro têm base na realidade. Essa função está, provavelmente, baseada no sistema límbico. O operador emocional também fica nessa parte: vincula as percepções aos sentimentos e constitui a base de nossa capacidade de pensar e julgar racionalmente.

O operador quantitativo avalia tamanho, quantidade, tempo, distância e calcula matematicamente. O operador binário nos ajuda a impor ordem aos mais variados fenômenos do meio circundante, medindo o espaço e o tempo por meio de noções opostas: em cima e embaixo, direita e esquerda, dentro e fora, antes e depois. Esse operador está localizado no lobo parietal inferior; pacientes com lesões nessa área não podem identificar os opostos de palavras ou objetos.

Para Newberg e D’Aquili, o operador binário desempenha papel crucial na formação e persistência dos mitos. Além de nos ajudar a reduzir a complexidade das situações, fornece uma heurística simples e rápida para nossa orientação ao elaborar os elementos centrais do mito: bem e mal, nascimento e morte, céu e terra, isolamento e integração.

Expandindo a conexão entre operadores cognitivos e sistemas de crença, Newberg e outros pesquisadores sustentam que certas áreas do cérebro cumprem papel fundamental na experiência religiosa. Embora essa perspectiva ainda seja controversa, parece claro que a capacidade de pensar por meio das noções de causa e efeito seria impossível sem uma determinada estruturação funcional do lobo parietal. Provavelmente, os seres humanos procuram explicações para os mistérios do mundo simplesmente porque o cérebro tem essa capacidade.

O autorO autor

Klaus Manhart é sociólogo, filósofo da ciência e escritor free-lance em Munique.
– Tradução de Alexandre Massella

Para conhecer mais
O poder do mito. Joseph Campbell, Palas Atena, 1993.

Cerebral blood flow during meditative prayer: preliminary findings and methodological issues. Andrew Newberg et al., em Perceptual and Motor Skills, vol. 97, no 2, págs. 625-630, 2003.

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Daniel Wood

 

Quando fui convidado por Joyce Werres a escrever um artigo para o IJRS, senti-me um pouco desconcertado. Para determinar alguma medida do meu desconcerto – é de rir, mas é verdade, o fato de que nunca sabemos a exata extensão em que estamos perdidos; caso contrário seria muito fácil reencontrar o caminho – tenho de confessar que não pude responder imediatamente ao convite com um “sim”, ou algo mais concreto, como “Sim, e tenho precisamente algo preparado para essa ocasião”.

       Não podia dizer plenamente meu “sim”. Tenho alguns artigos escritos por minha conta, há alguns anos que pratico esse exercício de escrita. Mas não pensei de imediato em publicar nada que tivesse escrito antes, lido ou não por outrem. Achei que o tema devia vir por si, algo que contribuísse para o momento que estou vivendo – pois, outra confissão: escrevo bem e com paixão quando o tema se apossa de mim, e considero isso uma coisa bem à moda de quem se interessa por Carl Gustav Jung e a imensa profundidade e extensão de sua obra. 

Não é, pois uma questão de dizer que sei precisamente o que se sucede. Existem lampejos: por exemplo, uso de mim o pouco que sei quando estou escrevendo – escrevo com paixão, mas isso não quer dizer que escrevo como se estivesse cavando um poço na Lua enquanto pulo carnaval em Marte a bordo de uma nave que se dirige a Saturno, e o último período não foi escrito metaforicamente. 

Esta semana estou muito sob a influência da questão que permeia a obra de Philip K. Dick, e considero algo muito próprio da psicologia complexa esse contínuo ato de perguntar o que é real e o que é ilusório, em conjunção com “o que é que constitui um autêntico humano”. Está viva em minha mente a tradução que acabei de terminar (há apenas dois dias) do texto em que Dick, considerado um dos maiores autores de ficção científica do século XX (parece-me que um dos prêmios que recebeu postumamente foi de “o maior”), em cuja obra se baseou o cinema ao filmar Blade Runner (Caçador de Andróides), O Pagamento, Screamers, Impostor, Total Recall (O Vingador do Futuro), Scanner Darkly. Uma olhada pela Internet e encontrei pelo menos um curta-metragem baseado em histórias desse escritor. Mas, desconfio sinceramente que temas como Matrix e Cidade das Sombras (Dark City), ou mesmo O Show de Truman, foram baseados, em algum grau, no pensamento inovador que Philip tem ao abordar as duas questões que o afligem. 

Também é possível pensar de outro modo, reconhecendo, como de costume, que a revolução que o pensamento junguiano representa para a humanidade está muito longe de ser delimitada. Outra série de ficção científica que fez muito sucesso na década de 1990 foi Babylon 5, cujo autor (J. M. Straczynski) interessava-se explicatamente por Jung. 

Romances são escritos, falseando a vida de Jung; mas contá-la de modo impreciso e às vezes até desonesto não é privilégio dos escritores – alguns, que se intitulam biógrafos, também o fazem dando tonalidades obscuras a algo cuja multiplicidade, estrutura e funcionamento precisa ser examinado mais detidamente do que pelo simples olhar de uma sociedade de consumo, uma configuração social que está acostumada a devorar as coisas antes mesmo de ser capaz de saber as conseqüências desse desenfreado apetite. 

Há alguns anos isso me faz selecionar continuamente, receoso, o que leio. Assim pensando, cheguei em minha casa para encontrar uma série de TV empilhada ao lado de minha televisão. Fizera o aluguel da série Lost, que tanto lugar recebe dos meios televisivos e jornalísticos nos dias de hoje, sendo chamada, ao lado de Ronaldinho, de “fenômeno”. 

Ronaldinho é um fenômeno por correr atrás da bola com maestria, embora não seja muito bom quando se trata de trabalhar em equipe. A série “Lost”, contudo, mostra um bando de gente perdida. Um vôo que se perde ao sobrevoar, desviado de sua rota, uma ilha perdida num lugar qualquer. Sem rádio, sem tevê, sem jornal. Os personagens parecem sobreviventes ao acaso, o que pensaríamos numa situação dessas à primeira vista: o vôo não foi fretado, são pessoas que por razões desconhecidas e em aparência não-congruentes foram parar lado a lado nos assentos de um vôo cuja missão era atravessar o oceano, saindo da Austrália, que os americanos chamam de “down under”. Na própria série os autores fazem questão de explicar, em um dos episódios, o motivo de escolherem (além dos custos) a Austrália como ponto de partida daquele vôo com uma anedota: “eles” (os norte-americanos) chamam a Austrália de “down under” porque é “o mais próximo que se pode chegar do inferno sem cair nele”1. Eu já vira esta expressão noutro filme de ficção “estonteante”, esse tipo de ficção que nos faz perder o rumo das coisas de chofre. Foi em “O Cubo Zero”2. Um personagem desapareceu; ao se fazer menção a ele, perguntando onde se encontra, respondem: “down under”, mas o letreiro da legenda em português diz: “Austrália”. Nada faz supor que aquele personagem tinha ido à Austrália. Ele estava morto, embora isso ainda não fosse revelado. Constata-se a partir disso que “down under” também pode significar a outra alusão à morte – pois, como se diz em português, “lá embaixo” também pode significar “debaixo da terra”. 

Estar, porém, “lá embaixo”, remete a um lugar que a civilização não está acostumada a pensar. Não em termos de mapa mundi, pois nós estamos “aqui embaixo”, ou pelo menos é que dizemos quando apontamos no mapa nossa localização. O Sul do Brasil em particular, de onde agora escrevo, está “aqui embaixo” no mapa do mundo, no mapa do Brasil, no mapa da América do Sul. 

Mas “embaixo” é uma posição que sempre se refere a algo que se supõe “em cima”. Costuma-se supor que a consciência é uma instância superior, está acima do resto do corpo se a consideramos situada na cabeça. E se o mundo estiver espetado num palito invisível, como uma dessas maçãs sendo assada ao fogo, poder-se-ia supor que a parte de baixo é essa em que estamos como na convenção do mapa – eles o fizeram, eles “lá em cima” o fizeram, então, parece natural, eles suporem que o lugar onde estão suas cabeças, não as nossas, seja “em cima”. Mas se a mão que segura o espeto estiver virada para baixo, então o lugar no mapa em que estamos “embaixo” na verdade é “em cima”. 

Tudo é uma questão de perspectiva, o modo de perceber a realidade, e Jung sabia perfeitamente bem disso, pois escreveu a respeito e salientou de vários modos essa circunstância. Einstein também falou sobre o assunto, embora em outros termos, e não tendo em vista, num primeiro momento, a perspectiva psíquica do universo. Para Einstein as linhas de campo gravitacionais que cingem o universo e fazem com que ele esteja dependurado em cordões invisíveis não têm relação imediata com a psique. A Teoria da Relatividade, tanto em sua parte geral quanto em sua parte especial, explica a questão da perspectiva de uma maneira diferente da abordagem junguiana, mas fala de coisas muito próximas à psicologia complexa. A Física também discute a realidade – impossível seria se não o fizesse, pois, se os gregos buscavam a physis, não é por acaso que também investigavam psyche como um dos elementos estreitamente relacionados ao elemento primordial do universo. Se a physis está na geração do universo, a psyche, sendo alma, é a “substância” que anima o universo, como é vento sob as asas da borboleta – e aí a noção de psyche por vezes se confunde com a noção de pneuma, como hoje as religiões confundem, eventualmente, alma com espírito. 

Não é à toa que Jung e Pauli colaboraram tanto. O conceito de sincronicidade não é uma invenção como, por exemplo, o automóvel a gasolina. É uma descoberta. É a retirada de uma ponta do véu de Ísis, que recobre todas as coisas. Uma parte do véu de Maya que se desfaz, para de novo recobrir a verdade. 

Como não é à toa, em Lost, que os personagens se encontram “ao acaso” e mais tarde os acontecimentos, em plano triplo (passado, presente e futuro se superpõem nas cenas) vão oferecendo razões para deixar claro que onde não há razão aparente existe uma trama profunda cujos ramos só deixam perceber gradações em níveis. 

A cada nível de profundidade, descobre-se mais e mais complexidade. Em flashbacks que mostram os passageiros do vôo 815 da Oceanic, um ou outro passageiro recebe o primeiro plano; enquanto isso, outros que aparecem no plano de fundo também são sobreviventes do desastre do vôo 815. Equivale a dizer que, de um modo ou de outro, seus “destinos” estavam sempre se cruzando, até esse momento crucial em que são todos reunidos numa ilha “perdida”. Antes estavam só no mesmo mundo, um planeta “perdido”, mas não “no meio” do Universo – os astrônomos da atualidade declaram de maneira praticamente unânime que estamos3 pendurados numa das pontas da Via Láctea. No entanto, desconfio que, se fosse depender do julgamento da política vigente no mundo, a Via Láctea apareceria no hemisfério superior dos mapas estelares. 

É verdade. De certo modo, estamos perdidos. Perdidos no mesmo mundo, uma ilha no grande oceano do infinito. Também em relação a nós mesmos: somos consciência mínima, luz de vela, no meio desse luzeiro imenso, que teimamos em interpretar como escuridão, que é a psique. 

De tal modo que só pode fazer sucesso estrondoso uma abordagem que evidencia, a todo o momento, como estamos perdidos, como acabamos nos encontrando uns aos outros e é esse ato de reconhecer nossos pontos em comum, nossos pontos de conexão, que dá tanto sentido a nossas amizades, às nossas afinidades, e ilumina os caminhos da vida, apresentando sinais por onde podemos ir tateando com nossas pequenas velas através da penumbra. 

De tal maneira que temos a ilusão de que não estamos perdidos, pois nos encontramos. Topamo-nos, é verdade, de modo relativo. São referências. Temo-las entre uns e outros. Somos brasileiros ou não, gaúchos ou não, paranaenses ou não, entendemos essa ou aquela língua, nascemos neste ou naquele dia, nesta ou naquela hora, e tudo isso é absolutamente relativo. Não me parece que questionemos nossa existência, isto é, se escrevo isso, se leio isso, é porque existo. Não parece que sonho a escrita, ou que a escrita me sonha lendo. Mas os leitores que conhecem Memórias, Sonhos e Reflexões hão de se lembrar da visão de Jung de que ele era a visão de um iogue, e que esse iogue, ao parar de meditar, cessaria sua (a de Jung) existência. É o que diz Philip Dick: se Deus nos pensa, existimos. Se Deus parar de nos pensar, deixamos de ser, coisa bastante estranha para o pensamento que se crê “no topo do mundo”, mas um tanto natural para quem sabe que está “embaixo”. 

Alguns se atrevem a pensar que, se não pensamos em Deus, ele não existe. Mas isso ou é uma falácia, um exercício inconseqüente de retórica, ou um convite à possessão e, por que não, à loucura também, caso de Nietzsche, segundo consta. 

Não é possível matar a Deus sem ter – antes disso – de enfrentar as conseqüências de, pelo menos, perder-se, para, se for possível o reencontro, descobrir que de fato, como disseram os antigos, Deus é imortal e também (embora não apenas) por isso é Deus. 

Estar perdido também pode ser sinônimo de estar à beira do inferno, lá embaixo. A loucura tem algo de semelhante a isso, podemos pensar neste instante. Quando Jung faz a metáfora de que é uma consciência mínima, uma vela que deve ser tomada com muito cuidado para permitir iluminar na escuridão, tem essa noção imprecisa que temos – os estudantes da psique – de que os limites entre loucura e sanidade são bastante tênues. 

Podemos, aliás, pensar que a loucura não existe. Então, desaparecem os limites. Mas se pensarmos que a loucura é um dos graus da realidade4, também poderemos ter graus de sanidade5 como sendo degraus que ocupamos na escada que visa nos levar ao que em tese almejamos: sermos autenticamente humanos, não estarmos mais perdidos, sermos capazes de localizar com precisão nosso lugar e nossa essência não só no espaço e no tempo, mas em relação ao que sabemos de nós mesmos e dos outros, semelhantes ou não. Mas a loucura existe na medida em que somos capazes de atribuir, mesmo com todo o sentido de que somos capazes, a nós ou a outrem essa coisa nonsense de cavar buracos na Lua enquanto se pula carnaval em Marte no meio de uma viagem a Saturno6. É que, com tudo que podemos compreender também podemos nos recusar, conscientemente ou não, a fazê-lo. 

Então atribuir um nome ao outro mantém nosso lugar seguro: “é louco”, “está perdido”, fica “lá embaixo”. Ou seja, “não é comigo”. São eles que estão Lost, eu estou aqui, sentado confortavelmente na frente da televisão, comendo pizza, tomando refrigerante. Do que será feito esse tempero? Cenas dos próximos capítulos. Cenas dos capítulos anteriores. 

É também por isso que Lost faz sentido. Não apenas porque descreve metaforicamente a situação do mundo hoje, mas porque sempre se pode pensar que o que está ali não é verdade, enquanto eu, que tenho o controle remoto nas mãos, sou dono da verdade, tenha ou não que trabalhar amanhã, tenha ou não que dar um sentido e uma conclusão minimamente interessantes ao que escrevo, penso e vivo. Eu é que existo, eles não. A menos que eles possam me ver na tevê e me desligar com o controle remoto, mas isso é um absurdo.

No entanto, a mente infantil é capaz de crer nisso. Crer que Deus é dono do controle remoto que pode desligar todas as histórias em todas as televisões, ou que o detentor da suprema realidade é aquele que pode derradeiramente determinar se existimos ou não, e se vivemos os três tempos ou apenas um deles, se seremos fenômeno ou não. Pelo menos achamos que só a mente infantil é capaz disso. 

Pode-se pensar que são divagações filosóficas de um diletante, talvez alguém que leu demais ou de menos, e não chegou à conclusão alguma – aliás, difícil chegar a qualquer conclusão simplesmente lendo. 

É preciso viver, é preciso escrever no livro da vida, é preciso no livro da vida se inscrever. 

Por isso Jung reputava tão vital para o ser e a individuação as rotinas da vida, essa circunstância de ter algo a que se agarrar, essa referência a partir da qual podemos nos determinar como humanos autênticos, que Philip Dick faz questão de citar em seu texto Como Construir Um Universo Que Não Se Despedaça Dois Dias Depois. 

Ter uma família, alguém a quem amamos; uma missão na vida; um cachorro, talvez um urso de pelúcia. É outro aspecto de Lost cujos personagens sentem falta, a rotina da vida cotidiana. No entanto, em Roma, fazer como os romanos. É preciso adaptar-se à vida também, criando rotinas. Quanto ao cachorro, Jung cita, quando fala da participation mistique: “você e seu cachorro no escuro”. Ter alguém (ou algo) a quem (ou ao qual) se agarrar mesmo na escuridão – embora possamos pensar que no escuro é muito fácil criar participação mística com o que quer que seja. 

Por isso também encontramos projeções: encontramos no mundo os aspectos que nos permitem fazer nele nossas almas, à semelhança do que Hillman disse, que “o mundo é lugar de fazer alma”. 

Reconhecemo-nos também no mundo, para que possamos nos reconhecer em nós mesmos: perdidos, para que possamos nos descobrir. A Oração de São Francisco de Assis é neste aspecto uma lição de sabedoria: “Que eu procure mais…” fazer do que ser feito – amar que ser amado, compreender que ser compreendido. Levar a luz às trevas, a esperança ao desespero. Ser capaz de viver a realidade e não a ilusão, e ser capaz de manifestar, na ilusão, a realidade. Coisas tão simples quando escritas e tão incrivelmente difíceis na realidade. 

“Pois é morrendo que se vive…”, porque, ao chegar lá embaixo, ou nos limites dessa situação, com freqüência surge uma oportunidade maravilhosa, algo que, dado um mínimo de percepção, nos iça de volta ao limiar da consciência e nos permite retornar à vida. Perdidos, pois precisamos ser encontrados. 

Assim é que Lost é um apelo, um chamado de e para o homem moderno. Não é para os que já sabem se sustentar e viver de si mesmos: os personagens são tontos da cidade moderna que mal sabem o que fazer no mato: um médico que não consegue reconhecer nas plantas à sua volta as substâncias de que a medicina depende; um construtor que encontra uma paisagem nua, mas não quer construir nela, quer voltar para a “civilização”, onde tudo já parece estar construído. Não há um padre, não sabem sequer fazer um ritual fúnebre, o que equivale a dizer que não têm respeito suficiente pelos mortos, e isso também que nossa sociedade perdeu a ligação com seu próprio passado. 

Há em Lost dois homens que sabem fazer muitas coisas: um era paralítico na sociedade moderna; vivia amarrado a uma cadeira de rodas, enganado pelo próprio pai e pela própria mãe7, trabalhando em uma fábrica de caixas de papel, sonhando em ser um grande explorador, um caçador e um sábio, coisa que se torna ao se encontrar na ilha, um rei, com um olho em terra de cegos. O outro, um iraquiano, ex-torturador na Guarda Republicana do Iraque, aprendeu em seu ofício de guerra a refletir sobre o valor da vida e do amor; parece por vezes ter mais consideração pelo ser humano do que os “civilizados”. É dos árabes que vem de resgate a alquimia, de descoberta a álgebra, de invenção o algarismo entre outros objetos das ciências cuja perspectiva inicial foi perdida de vista pela civilização fragmentária que esqueceu o rumo e caiu, em pleno vôo, rumo a uma ilha onde é obrigatório reconhecer que não é possível viver só. Há uma mulher, coreana, que sabe cultivar plantas, e serve de elo entre o oriente e o ocidente. Seu marido, coreano também, é o único que parece saber alguma coisa sobre a pesca. Ambos representam, relutantemente, ligações entre o homem e a natureza – os ocidentais falam de ecologia, mas sua cultura é aquela que mais se distancia dela. 

Tais personagens sugerem que aquilo que em nossa civilização pode dar condições de conhecimento de si mesmo está engessado. A exemplo disso o médico, que é o líder da turma toda, está constantemente envolto em questões que o fazem questionar sua própria capacidade de decidir, tanto quanto a de crer. É que a ciência também está engessando a criatividade humana, na medida em que constrói impedimentos à fé, pois toda criação parte de um ato de fé. Se o ser humano não puder ter o numinoso como elemento fundamental de sua existência, será difícil justificar qualquer de seus inventos. 

Isso também faz lembrar o Egito, cuja civilização durou milhares de anos: o númeno era o elemento fundamental, central, da construção da civilização egípcia. Aliás, os grandes monumentos da história representam não o que há de cotidiano e banal no homem, mas o que está muito além da aspiração diária. São representantes das “esferas fixas” em torno das quais gira o universo, segundo Hermes Trismegistus; são também elementos a priori, não funções, mas coisas anteriores mesmo às idéias; são geradores de idéias, ideais; arquétipos, fundamentos da vida. 

O apelo de Jung está mais vivo do que nunca. É preciso conferir a todos os atos da vida o fundamento psíquico, para que as coisas sejam aquilo que na verdade são, isto é, representantes do ser e facilitadores do devir. 

E pareceu-me, enfim, que estas estão entre as principais razões do sucesso “fenomênico” de Lost: é que por trás do fenômeno está o númeno, e este impulsiona àquele, sem o qual o fenômeno, destituído de alma, torna-se, no máximo, simples “coincidência”. Em Lost a princípio parece não haver númeno entre os sobreviventes do vôo que caiu, mas há a floresta, a ilha, o oceano, os perigos, e todos paulatinamente se revelam interrelacionados, além do presente, com o passado dos sobreviventes e seus destinos. Pois parece ser preciso destacar para o ser humano uma situação que lhe ofereça um deslocamento em relação ao seu cotidiano para que possa perceber, nas entrelinhas, o que também está presente no cotidiano, mas que é tão invisível, porque estamos perceptivamente embotados em relação a nossa vida diária, e esse embotamento é tão endêmico, tão subjacente a esta nossa sociedade, que o “mal do século” – segundo se dizia no início do ano 2000 em relação à depressão – não foi resolvido, nem sequer foi conhecido como elemento necessário à transformação social.

1 Numa de conversa de bar em Sidney, o pai de um dos protagonistas – o médico Jack – conversa com outros dos protagonistas, Sawyer, sobre a bebida e a Austrália, em um flashback da passagem de Sawyer pela Autrália.
2 São três filmes: O Cubo, o Cubo Dois e o Cubo Zero, que cronologicamente se situa antes do “Cubo”, mas foi o último a ser produzido.
3 Muita gente considera obra do acaso o fato de que estamos, uns sete bilhões de habitantes humanos e outros tantos seres vivos, neste mesmo planeta, com tantos lugares no universo para se estar!
4 Assim como é um dos graus da percepção da realidade.
5 Ser são, aliás, não significa que aquilo que percebemos é aquilo que é – longe disso.
6 Aliás, em termos psíquicos isso é possível, ou não teríamos formulado a hipótese. Se pode ser escrito, é porque pode ser imaginado. Muitas coisas podem ocorrer no campo da psique, embora nunca se manifestem, sabem isso pelo menos os junguianos. Daí que a realidade psíquica é tão mais abrangente que a física, porque a última é manifesta, mas a primeira está no campo da criação das coisas.
7 Num dos episódios, já adulto, após anos de vida como órfão, é enganado por sua mãe e pai de modo a doar um dos rins para o pai; em seguida é posto de lado. No entanto, na ilha é o maior portador da fé. Acredita num aspecto transcendental da vida que o reabilitou.

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>>Esta semana, dois artigos discutem dois mitos sempre presentes quando se fala em educação: o de que o uso de computadores melhora o desempenho escolar e o de que os professores melhoram seu desempenho ganhando melhor. Veja abaixo as duas matérias:

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O uso intenso de PCs piora o desempenho escolar

“O resultado mais importante… surgiu quando os estudantes disseram sempre usar o computador. Entre esses, não importou a classe social ou disciplina, o desempenho foi sempre pior do que entre os que nunca usaram”, disse Jacques Wainer, do Instituto de Computação da Unicamp, à Agência Fapesp (http://www.agencia.fapesp.br), que divulgou o estudo.

Entre os alunos da 8a série, o quadro foi semelhante. Wainer e Tom Dwyer, do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, coordenaram a pesquisa.

Os resultados mostraram, por exemplo, que na 4a série os estudantes de classe alta que raramente usaram o computador para as tarefas tiveram, em média, 15 pontos a menos do que os que nunca o fizeram, tanto em português quanto em matemática.

Já entre os alunos mais pobres que usaram computador, mesmo que raramente, houve uma piora mais acentuada nas notas em relação aos estudantes que nunca usaram PCs. Esse grupo apresentou uma diferença média de 25 pontos em português e 15 pontos em matemática.

A pesquisa utilizou dados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), exame aplicado em todos os Estados a alunos de 4a e 8a séries do ensino fundamental e da 3a série do ensino médio.

OTIMISMO NO PLANALTO

O governo federal tem promovido esforços para melhorar a inclusão digital e tenta por uma segunda vez realizar uma licitação para compra de 150 mil notebooks educacionais de baixo custo para distribuição entre alunos do ensino fundamental de 300 escolas do país. A primeira tentativa não atendeu às exigências de preço do governo.

O assessor da Presidência da República José Luiz Aquino, que trabalha no projeto Um Computador por Aluno (UCA), afirmou em entrevista por telefone que há diferenças entre o uso de computadores em laboratórios de informática, em que as máquinas são compartilhadas por vários alunos, e o projeto do governo em que os estudantes poderiam levar para casa os equipamentos no futuro.

“Queremos testar nas 300 escolas ainda este ano para sabermos os resultados (no desempenho dos alunos), mas piora eu tenho certeza que não vai acontecer. Nosso modelo é diferente”, disse Aquino, que preferiu não comentar imediatamente os resultados da pesquisa. A Secretaria de Educação à Distância do Ministério da Educação também não quis comentar o estudo, informando que ainda não tivera tempo suficiente para examiná-lo.

Apesar de o trabalho detectar uma relação entre o uso do computador e piora nas notas, os autores não conseguem identificar, sem mais levantamentos, os motivos para o quadro nem porque o efeito da inclusão digital entre alunos mais pobres ser mais grave.

“Nossos resultados devem inspirar profundas interrogações entre todos aqueles que apóiam o uso de computadores no sistema escolar e nos lares e telecentros da nação, em nome da luta contra uma suposta ´desigualdade digital”´, afirma a pesquisa “Desvendendo Mitos: Os Computadores e o Desempenho no Sistema Escolar”, disponível em http://www.scielo.br.

“Como o computador é bom para nós, professores, por exemplo, tendemos a achar que ele é útil para todos. Mas ele não é uma solução mágica para a educação”, disse Wainer à agência.

Reuters

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Salário de professor
“A experiência dos estados mais bem-sucedidos mostra que consertar a educação requer muito mais do que jogar dinheiro no sistema”
Claudio de Moura Castro

Segundo afirmativa corrente, os professores da educação básica ganham pouco, por isso a educação é ruim. Como tenho a infeliz sina de acreditar na ciência, para mim isso é assunto de contar e medir. Ganhar pouco ou muito é uma questão relativa (como se viu pelas discussões sobre salários de deputados e juízes). Portanto, só tem sentido a comparação com categorias equivalentes. Com Gustavo Ioschpe, fiz uma revisão de duas pesquisas meticulosas, cotejando o salário dos professores com o de outros grupos profissionais na América Latina. Os resultados colidem com os mitos. Em confronto com pessoas de educação equivalente, os professores não ganham menos. Calculando-se os salários-hora, aumenta a superioridade salarial dos mestres, inclusive dos brasileiros. Ou seja, não se pode dizer que os professores ganham mal, considerando a remuneração de profissionais com igual escolaridade. Há significativas variações, de estado para estado, sendo alguns professores realmente mal pagos. Mas, como a educação é ruim na média, faz sentido comparar salários de professores, também na média. Outro estudo interessante nos é dado por uma pesquisa recente de Samuel Pessoa, na qual o autor confronta os salários do sistema privado com os do sistema público. Em contraste com as conversas de botequim, em média os salários do setor privado são ligeiramente inferiores, apesar da ampla superioridade no desempenho dos seus alunos. Mais um abalo sísmico nos castelos da imaginação. Outra maneira de ver o assunto é perguntar se a salários maiores corresponde um ensino de qualidade superior. Filosofar não resolve. Faz mais sentido calcular os coeficientes de correlação. No caso, esses números medem a probabilidade de que salários mais altos dos professores ocorram nos sistemas estaduais com melhor educação – medida por um índice de desenvolvimento da educação básica (Ideb) mais elevado. Foram tomadas várias definições de salário: do ensino médio, do fundamental, salário-hora, com e sem gratificação e, também, o orçamento estadual para a educação (per capita). Os resultados são sempre os mesmos, quaisquer que sejam as definições. Não há nenhuma associação entre salário alto e educação boa. Os estados com desempenho superior no ensino tanto podem pagar bem como mal. Por exemplo, Alagoas e Amazonas pagam muito e têm desempenho fraco. Minas e Santa Catarina pagam pouco e estão no topo da lista do Ideb. Só há uma conclusão possível da análise de tais números: a má qualidade do nosso ensino não pode ser explicada pelos salários dos professores. Não se trata de metafísica nem de imponderáveis. Quem discordar dessa afirmativa que trate de demonstrar que os números estão errados. Mas, remexendo outros números, podemos encontrar algumas pistas intrigantes. Pesquisa recente indicou que 80% dos professores da rede pública estavam insatisfeitos e com sua auto-estima chamuscada. Já em uma pesquisa com escolas privadas de todo o Brasil, verifiquei que 80% dos professores estavam satisfeitos. Ou seja, com níveis salariais parecidos, as escolas privadas – não apenas as de elite – atraem melhores professores e os mantêm contentes. Não há dados confiáveis, mas parece que os professores estão também contentes nas públicas bem lideradas.
Se essas idéias fazem sentido, os sistemas públicos ganhariam em qualidade se conseguissem criar um ambiente mais positivo e estimulante para os seus professores. Como a escola tem a cara do diretor, a sua escolha irresponsável arruína o ensino. Onde isso ocorre, os professores se sentem desvalorizados e manipulados pela burocracia. Os mais graves pepinos estão no clientelismo do governo local. A politicagem passa na frente das preocupações com a qualidade. A carreira do magistério é leniente com malandros e incompetentes. É a “incompetência ignorada, a competência não reconhecida”. No fim das contas, a experiência dos estados mais bem-sucedidos mostra que consertar a educação requer muito mais do que jogar dinheiro no sistema.

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Nos primeiros anos de vida, a criança aprende por imitação. Mesmo na adolescência, os bons exemplos recebidos dos adultos são o que forma a estrutura moral e de valores do ser humano. É o que ensina a ciência espiritual de Rudolf Steiner, médico alemão que, no começo do Século XX, fundou as bases da Antroposofia
Duas palavras mágicas caracterizam a maneira como a criança se relaciona com o mundo: imitação e exemplo. O filósofo grego Aristóteles denominou o homem como o animal mais propenso a imitar; essa verdade vale para a idade infantil, até os sete anos, mais do que para qualquer outra. O que acontece no ambiente físico, a criança imita, e essa imitação confere aos órgãos físicos suas formas definitivas. Devemos considerar o ambiente físico em sua acepção mais ampla, incluindo nele não apenas o que se passa materialmente ao redor da criança, mas tudo o que ocorre, o que seus sentidos percebem, o que, a partir do espaço físico, é suscetível de agir sobre as forças espirituais. Isso inclui todas a ações morais e imorais, inteligentes e tolas que a criança possa perceber.
Não são, pois, as sentenças morais nem os ensinamentos da razão que atuam nesse sentido sobre a crianças, mas apenas o que os adultos fazem em sua redondeza de maneira visível. Preceitos deste tipo têm efeito plasmador, não sobre o corpo físico, mas sobre o etérico; porém esse, até a idade dos sete anos, tem o envoltório etérico protetor da mãe exatamente como, fisicamente falando, o corpo físico foi protegido antes do nascimento pelo envoltório materno.
O que deve desenvolver-se nesse corpo etérico antes do sétimo ano, quanto a representações, hábitos, memória, etc., deve fazê-lo espontaneamente, tal como o fazem os olhos e as orelhas no ventre da mãe sem que haja intervenção da luz exterior.
Seus órgãos físicos adquirem forma pela influência do ambiente físico. A visão desenvolve-se sadiamente quando existem no ambiente da criança fenômenos apropriados de luz e cor; no cérebro e na circulação sangüínea, formam-se as disposições para um sentido moral sadio, desde que a criança perceba em seu ambiente fatos morais. Se antes da idade de sete anos a criança vê ao seu redor apenas atitudes tolas, o cérebro adquire formas tais que a capacitam apenas para tolices na vida posterior.
Assim como os músculos da mão se tornam fortes e vigorosos quando exercem atividades apropriadas, o cérebro e os demais órgãos do corpo humano seguem o rumo certo quando recebem do ambiente os impulsos adequados.
Pode-se fazer para a criança uma boneca com um guardanapo dobrado: duas pontas serão os braços, as outras as pernas, um nó servira para a cabeça. Tendo à sua frente o guardanapo dobrado, a criança deve, por meio de sua fantasia, acrescentar algo que o transforme em figura humana. Essa atividade da fantasia tem efeito plasmador sobre as formas do cérebro. Porém, se a criança ganha uma linda boneca rosto de porcelana, nada resta ao cérebro para fazer, e ele atrofia-se em vez de desabrochar.
Se os homens pudessem olhar, como pode fazê-lo o pesquisador espiritual, para dentro do cérebro empenhado em estruturar suas próprias formas, com toda a certeza só dariam a seus filhos brinquedos suscetíveis de avivar as forças plasmadoras do cérebro.
Nossa época materialista produz poucos bons brinquedos. Veja-se como é saudável aquele brinquedo que, mediante dois pedaços de madeira deslocáveis, mostra dois ferreiros virados um contra o outro, martelando um objeto. Ótimos, também, são os livros ilustrados com figuras móveis: puxando os fios fixados nessas figuras, a criança transforma a ilustração morta em imagem animada. Tudo isso provoca a atividade íntima dos órgãos, a partir da qual se constróem as formas corretas para eles.
De acordo com a Ciência Espiritual, uma criança nervosa e irrequieta e outra letárgica e fleumática devem receber tratamentos diferentes, a começar pelo ambiente em que vivem. A esse respeito tudo é importante, desde as cores do quarto e dos objetos que normalmente rodeiam a criança até as cores das roupas com as quais ela é vestida.
Quando não se segue a orientação da Ciência Espiritual, freqüentemente se faz o contrário, pois os conceitos materialistas conduzem, em muitos casos, a soluções incorretas. Uma criança excitada deve ser rodeada e vestida de cores amarelas e vermelhas; no caso de uma criança impassível, convém recorrer a tonalidade azuis e esverdeadas. O que importa é a cor complementar produzida interiormente. No caso do vermelho, será a cor verde; no do azul, a alaranjada – como facilmente constatamos ao olhar durante algum tempo para uma superfície colorida nessas cores e depois fixar o olhar rapidamente numa superfície branca. Essa cor complementar é produzida pelos órgãos físicos da criança e provoca as estruturas orgânicas correspondentes, de acordo com suas necessidades. Se a criança irrequieta tem ao seu redor uma cor vermelha, esta produz intimamente a imagem complementar verde, que tem efeito calmante, e assim os órgão adquirem tendência à calma.
Convém levar em conta que o próprio corpo físico determina, nessa idade, o que lhe convém. Ele faz isso desenvolvendo adequadamente os apetites. De maneira geral, pode-se dizer que o corpo físico sadio requer o que lhe faz bem. Enquanto se tratar do corpo físico da criança, convém observar quais são os desejos do apetite sadio e da alegria. A alegria e o prazer são as forças que melhor plasmam as formas físicas dos órgãos.
Podemos incorrer em graves erros a esse respeito, deixando de proporcionar um entrosamento perfeito da crianças com seu ambiente físico. Isso pode acontecer em particular com os instintos relativos à alimentação. Podemos abarrotar a criança com certos alimentos, a ponto de fazê-la perder totalmente os instintos sadios relativos à comida; por meio de uma alimentação correta, esses instintos podem ser mantidos de tal maneira que a criança só solicite o que lhe for conveniente (isso se aplica até a um simples copo de água), enquanto recusa o que pode prejudicá-la.
Entre os impulsos que têm efeitos plasmadores sobre os órgãos físicos encontramos, pois, a alegria provocada pelo ambiente e, dentro desse, os rostos alegres dos educadores, como um amor antes de tudo sincero, nunca simulado. Tal amor, permeando calorosamente todo o ambiente, incuba, no verdadeiro sentido da palavra, as formas dos órgãos físicos.
Quando a criança pode imitar tais exemplos sadios numa atmosfera de amor, ela se encontra em seu elemento adequado. Deve-se observar rigorosamente que, ao seu redor, nada ocorra que ela não deva imitar. Ninguém deveria praticar qualquer ação dizendo-lhe isso você não pode fazer. Quando se vê a criança rabiscar letras muito antes de compreender seu sentido, constata-se que ela procura, nessa idade, apenas imitar. Aliás, é bom que ela primeiro imite estes signos e somente mais tarde entenda seu significado. Com efeito, a tendência a imitar pertence à época em que se desenvolve o corpo físico, enquanto a interpretação do sentido diz respeito ao corpo etérico. É conveniente atuar sobre este ultimo só depois da troca dos dentes, quando já se desprendeu o envoltório etérico. Todo aprendizado deveria ocorrer, nessa época, especialmente pela imitação. É ouvindo que a criança melhor aprende a falar. Quaisquer regras e qualquer instrução artificial nada podem trazer de bom.
Nos primeiros anos da infância, meios educativos como as canções devem impressionar os sentidos por seu belo ritmo. O que importa não é tanto o conteúdo, mas a beleza sonora. Quanto mais algo vivifica a visão e o ouvido, tanto melhor. Nunca se deveria subestimar a força plasmadora de movimentos de dança acompanhando o ritmo de uma música.
Com a segunda dentição, o corpo etérico se liberta de seu envoltório etérico; começa então a época em que se pode exercer sobre ele uma influência pedagógica externa. Convém ter em mente quais fatores atuam de fora sobre o corpo etérico. Sua transformação e seu desenvolvimento caminham a par com uma transformação e uma mudança das inclinações, dos hábitos, da consciência, do caráter, da memória e dos temperamentos. O que atua sobre o corpo etérico são imagens, exemplos e uma orientação disciplinada da fantasia. Assim como até os sete anos de idade a criança deve ter exemplos físicos para serem imitados, entre a troca de dentes e a puberdade seu ambiente deve conter tudo o que possa orientá-lo por seu valor intrínseco e seu sentido. Isso ocorre com tudo o que atua através de imagem e por analogia.
O corpo etérico desenvolve sua força quando uma fantasia bem orientada pode seguir, como modelos e idéias, as imagens e impressões extraídas da vida ou recebidas pelo ensino. O que atua harmoniosamente sobre o corpo etérico em desenvolvimento não são conceitos abstratos, mas o elemento plástico – não o sensorial, mas o espiritual visível. A observação espiritual é o meio educativo mais apropriado para esses anos. Daí a importância, para o jovem, de ter à sua volta mestres, personalidade cujas maneiras de ver e julgar o mundo possa despertar nele as forças intelectuais e morais desejáveis.
Assim como imitação e exemplo eram as palavras mágicas para a educação dos primeiros anos, para os anos ora focalizados o são a aspiração a idéias e a autoridade. A autoridade natural, não-imposta, deve constituir a evidência espiritual imediata para que o jovem forme consciência, hábitos e inclinações e discipline seu temperamento, com cujos olhos observa o mundo. Valem principalmente para essa idade as belas palavras do poeta: cada um deve escolher o herói a quem pretende imitar em sua ascensão ao Olimpo.
Veneração e respeito são forças que devem fazer crescer o corpo etérico de maneira sadia. Quando falta essa veneração, as forças vivas do corpo etérico se atrofiam. Imaginemos a seguinte cena e o efeito produzido por ela sobre um menino de, digamos, oito anos de idade. Alguém lhe conta algo a respeito de uma pessoa particularmente venerável. Tudo o que ele ouve lhe incute um temor quase sagrado. Aproxima-se o dia em que ele deve ter o primeiro encontro com essa pessoa. Ao pressionar a maçaneta da porta atrás da qual deverá aparecer o ser venerável, um tremor de respeito o invade. Os belos sentimentos gerados por semelhante experiência permanecerão entre as reminiscências mais duradouras da vida. Feliz é o adolescente que pode elevar seu olhar para o mestre e educador como autoridades naturais, e isso não apenas em alguns momentos excepcionais, mas durante toda a juventude! Além dessas autoridades vivas, verdadeiras encarnações da força moral e intelectual, deve haver as autoridades
espirituais aceitas.
O rumo espiritual do jovem deve ser determinado pelas grandes figuras da História, pela descrição de homens e mulheres modelares e não por princípios abstratos de moral, que só atuarão efetivamente depois que o corpo astral se tiver despedido de seu envoltório astral, na época da puberdade. Tais considerações devem nortear sobretudo o ensino da História.
Antes da troca dos dentes, todas as histórias, contos, etc. terão como único fim trazer à criança um ambiente de alegria e riso; mais tarde, as histórias deverão conter, além disso, imagens vívidas que incitem nos adolescentes o desejo de igualar os feitos descritos. Não se deve esquecer que maus hábitos podem ser combatidos por meio de imagens repugnantes apropriadas. Quando existem tais maus hábitos e inclinações, pouco adianta recorrer a admoestações. Contudo, muito pode ser feito para erradicá-los por meio de imagens realistas de homens maus que possuam os mesmos defeitos e sofram suas conseqüências negativas em sua vida posterior.
Convém ter em mente que não é de conceitos abstratos que o corpo etérico em formação recebe impulsos profundos, mas sim de imagens vívidas em sua clareza espiritual. É necessário, naturalmente, proceder com bastante tato para não provocar um efeito contraproducente. O que importa é a maneira como se contam as histórias. Por esse motivo, um conto bem narrado nunca pode ser substituído por uma leitura.
Fonte: Rudolph Steiner, A Educação da Criança Segundo a Ciência Espiritual (Antroposófica)
* Pseudônimo do escritor alemão Johann Paul Friedrich Richter (1763-1825)

>>Publicado originalmente em O Pensador Selvagem

O fundamentalismo separa, causa divergências e leva a guerras. A tolerância é o alimento da paz.

Fundamentalismo é o termo usado para se referir à crença na interpretação literal dos livros sagrados. Fundamentalistas são encontrados entre religiosos diversos e pregam que os dogmas de seus livros sagrados sejam seguidos à risca.

O termo surgiu no começo do século 20 nos EUA, quando protestantes determinaram que a fé cristã exigia acreditar em tudo que está escrito na Bíblia. Mas o fundamentalismo só começou a preocupar o mundo em 1979, quando a Revolução Islâmica transformou o Irã num Estado teocrático e obrigou o país a um retrocesso aos olhos do Ocidente: mulheres foram obrigadas a cobrir o rosto e festas, proibidas. “Para quem aprecia as conquistas da modernidade, não é fácil entender a angústia que elas causam nos fundamentalistas religiosos”, escreveu Karen Armstrong no livro Em Nome de Deus: o Fundamentalismo no Judaísmo, no Cristianismo e no Islamismo.

Porém, não são apenas os muçulmanos que têm seus fundamentalistas, também os cristãos, os judeus e, por incrível que possa parecer, os ateus e os céticos. A atitude fundamentalista não permite diálogo, porque suas verdades são únicas e incontestáveis, e quem diverge delas é desqualificado, quando não ridicularizados ou atacados pessoalmente.

Em muitas situações podemos atuar de forma fundamentalista, excluindo a possibilidade de compreender e dialogar com o outro. Pessoas que participam de grupos de defesa dos direitos dos animais vêem com imenso desprezo quem não gosta de animais. Vegetarianos podem arrepiar-se ao passar na porta de uma churrascaria. É óbvio que nem todos são fundamentalistas, graças a Deus, ou graças a Richard Dawkins.

Tolerância e diálogo devem ser nossos lemas na relação com outros seres humanos, esta é a base da verdadeira paz!

Marcelo Guerra

Há quase 11 anos atrás estive no Nepal, estudando Medicina Ayurvedica e Medicina Tibetana, e conhecendo a cultura local. De tudo, o mais fascinante é a forma de cumprimento que eles usam, o Namastê, em que as duas mãos se unem na frente do peito, e a cabeça é inclinada para frente. O significado deste cumprimento é “O Deus que há em mim saúda o Deus que há em você.”

Neste gesto e nesta palavra há implícito um enorme respeito pelo outro ser humano, que é considerado um portador de Deus. Diante de tanta violência, de tantos desrespeitos, esquecemos que o ser humano é o que há de mais sublime na Terra. E nossos atos precisam ser permeados pelo que temos de Deus dentro de nós. Portanto, através deste gesto, as pessoas elevam-se acima de suas diferenças e buscam uma conexão com o outro.

Vejamos alguns exemplos de como esquecemos que Deus está dentro de cada ser humano. No fim do ano de 2007, um rapaz foi torturado até a morte dentro de casa por PMs no estado de São Paulo. No reveillón de Copacabana foram disparados tiros no meio da multidão e a suspeita maior é de que foram disparados na própria praia. A mídia fala incessantemente sobre o aquecimento global e, no entanto, no período de estiagem foram feitas várias queimadas criminosas.

O Deus que está dentro de nós pode ser chamado por vários nomes, como Eu Superior, Eu Interior, Poder Superior, etc, mas é o mesmo princípio de que somos mais do que podemos ser, somos mais do que nosso cotidiano de trabalho, preocupações, contas, engarrafamentos e más notícias nos permite acreditar. Leonardo Boff escreveu um livro chamado “A Águia e a Galinha”, que fez grande sucesso nos anos 90, e dele extrai este trecho abaixo:

Cada um hospeda dentro de si uma águia. Sente-se portador de um projeto infinito. Quer romper os limites apertados de seu arranjo existencial. Há movimentos na política, na educação e no processo de mundialização que pretendem reduzir-nos a simples galinhas, confinadas aos limites do terreiro. Como vamos dar asas à águia, ganhar altura, integrar também a galinha e sermos heróis de nossa própria saga? (Leonardo Boff)

Saber reconhecer em si esta qualidade divina é o diferencial que pode tornar nosso mundo mais fraterno e agradável de se viver. Portante, Namastê para você!

Jacob Boehme

“Perceber de forma pura a constituição íntima do mundo através da segunda visão só foi possível a alguém como Jakob Boehme, que podia abandonar-se às coisas exteriores de uma forma desinteressada. Qualquer linha da obra de Jakob Boehme nos fala de um imenso amor que vivia nele e com o qual ele enxergava tudo- amor que também penetrava na sua concepção das imagens refletidas do elemento espiritual contido no universo…”

Rudolf Steiner, in: “O Conhecimento Iniciático”, Antroposófica, p. 95.

“A idéia fundamental daquele que foi o 1º filósofo alemão é que tudo dever ser mantido em uma unidade absoluta- a absoluta unidade divina e a reunião de todos os opostos em Deus. […]Uma das principais idéia de Böehme é a de que o universo constitui uma única via divina e revelação de Deus em todas as coisas”

G. HEGEL, in: “Lições sobre a história da filosofia”

 

 

Tecendo o Fio do Destino

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Destino?

Agulha no palheiro

onde o homem se procura

O tempo inteiro”

Lindolfo Bell

 

Cada um de nós nasce com um destino, não como um livro previamente escrito em que cada ato nosso está previsto, mas como uma missão a nós confiada. Isto faz com que a vida tenha um sentido e, muitas vezes, sofremos com angústia ou depressão por não percebê-lo claramente. Os fatos de nossas vidas estão aí para que encontremos o Fio do Destino que, junto com o nosso livre arbítrio, tece os acontecimentos tanto no nosso mundo interior quanto na nossa vida nas comunidades em que vivemos.

Este curso tem o objetivo de buscar o fio do destino de cada um, desembaraçá-lo, tecê-lo de forma diferente, mais confortável, mais de acordo com o sentido que queremos dar para nossas vidas. Para isso trabalharemos com fatos de nossas próprias vidas. Este trabalho será feito com palavras e arte, como aquarela, modelagem em argila, tear, desenho, contos de fadas, vídeos, teatro, etc. Ninguém precisa ser artista para participar, é claro.

Muitas das questões que nos colocamos hoje são percebidas de modo diferente quando as situamos no contexto mais amplo da vida toda. A troca de experiências de vida num grupo é enriquecedora e suaviza os sentimentos ligados a essas experiências.

 

O curso será coordenado por Marcelo Guerra, Médico Homeopata, Terapeuta Biográfico em formação. Terá a duração de 10 encontros mensais e será realizado no Instituto Gaia, à Rua Almirante Alexandrino, 2495A, Santa Teresa, Rio de Janeiro. O primeiro encontro será em 24 de novembro de 2007, de 8:30h às 17h. O investimento para cada módulo será de R$80,00 (já incluído o material). As vagas são limitadas. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone (22) 9254-4866 ou pelo e-mail <!– var prefix = \'ma\' + \'il\' + \'to\'; var path = \'hr\' + \'ef\' + \'=\'; var addy74635 = \'marceloguerra\' + \'@\'; addy74635 = addy74635 + \'terapiabiografica\' + \'.\' + \'com\' + \'.\' + \'br\'; document.write( \'\’ ); document.write( addy74635 ); document.write( \’\’ ); //–>n marceloguerra@terapiabiografica.com.br <!– document.write( \'\’ ); //–> Este endereço de e-mail está sendo protegido de spam, você precisa de Javascript habilitado para vê-lo <!– document.write( \'\’ ); //–>

 

Cada um hospeda dentro de si uma águia. Sente-se portador de um projeto infinito. Quer romper os limites apertados de seu arranjo existencial. Há movimentos na política, na educação e no processo de mundialização que pretendem reduzir-nos a simples galinhas, confinadas aos limites do terreiro. Como vamos dar asas à águia, ganhar altura, integrar também a galinha e sermos heróis de nossa própria saga? (Leonardo Boff)

>>A Eleonora é uma artista gaúcha que edita um excelente blog chamado Pintando a Vida e eu retirei este artigo de lá, falando sobre pintura:

 Qualquer material de pintura, em especial a aquarela, por ser a mais fluida,exige um estado de atenção para conduzí-lo no papel ou tela, ao mesmo tempo que traz uma satisfação ao observar-se os lindos efeitos produzidos. A tinta sempre funciona como um meio sensual. É importante “estar no corpo” ao pintar, olhar o que está produzindo, e prestar atençâo ao gesto, a pincelada, além de saber valorizar o que fez, para não repassar e repassar, destruindo o que conseguiu, em busca de algo que nunca vai chegar…É estar presente. E no estar presente as emoções passam pelas mãos e pincel e plasmam no papel. Assim, podemos dizer que a pintura leva a expressar os afetos, corporalmente, concretamente.