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Exercitando a vontade
Posted 6 março, 2014
on:A Quaresma, no cristianismo, é o período que vai da quarta-feira de cinzas ao sábado de Aleluia. Para os católicos, é tempo de jejuar. Pessoalmente, não vejo como coerente a prescrição de jejuar em nome da religião, já que Jesus (segundo os Evangelhos) demonstrou inúmeras vezes que esse tipo de regras e rituais opunha-se à busca da própria essência, e serve muito mais para afastar do que para unir as pessoas.
Independente de minhas opiniões, o fato é que muitas pessoas jejuam nessa época do ano, como um caminho para aproximá-las da divindade. O bom disso é poder exercitar a vontade. A vontade é uma potência do humano que permite que alguém exerça uma ação no mundo. Não se trata simplesmente do que chamamos habitualmente de vontade, como ‘estou com vontade de ir ao cinema’, ou ‘não estou com vontade de fazer nada’. Antes, é algo profundamente enraizado no Eu interior. Na medicina chinesa, a vontade está ligada à essência e à vitalidade, e é considerada herança de nossos ancestrais. Quanto mais perdemos a vitalidade, menos conseguimos expressar nossa vontade. E quanto menos expressamos nossa vontade, mais desvitalizados nos tornamos. A vontade é a força de realização de nossos propósitos, sejam eles transcendentais ou banais.
Muitas de nossas ações no mundo são determinadas por circunstâncias externas. Ligo o ar condicionado porque sinto calor, me cubro porque sinto frio. Também agimos pautados por outras pessoas, seja diretamente, ao cumprirmos a ordem de alguém, seja indiretamente, ao realizarmos algo porque alguém fez algo. Em suma, reagimos mais do que agimos. Quando agimos em favor daquilo que acreditamos ser importante para nós mesmos ou para os outros, que acreditamos estar em consonância com nossos propósitos, com nossas intenções, aí então estamos colocando nossa vontade em ação.
Portanto, jejuar por ser uma regra religiosa não significa que seja necessariamente meu propósito. Mesmo porque o jejum da quaresma é de carne vermelha. E quem é vegetariano? Já jejua naturalmente? Tem mais pontos para o céu? Abrir mão de algo que se gosta pode ser um bom exercício da própria vontade e, melhor ainda, fazer algo que você gosta ou gostaria de fazer e vive adiando, um maravilhoso exercício da vontade. Aquela caminhada regular que você está sempre planejando e nunca começa, por exemplo. Marcar efetivamente o dia de parar de fumar é um exercício da vontade extremamente benéfico para sua saúde! Organizar seus escritos e escrever novas poesias trará mais força para a sua vida, e pode trazer mais lirismo para outras pessoas.
A vontade precisa ser exercitada, assim como os músculos numa academia. Vontade requer disciplina, e estipular uma data para iniciar aquilo que você quer realizar é um bom começo. Leia dentro de si mesmo o que você gostaria de tornar em ação e imprima sua vontade no mundo. Você e o mundo agradecerão!
Exercitando a vontade
Posted 6 março, 2014
on:A Quaresma, no cristianismo, é o período que vai da quarta-feira de cinzas ao sábado de Aleluia. Para os católicos, é tempo de jejuar. Pessoalmente, não vejo como coerente a prescrição de jejuar em nome da religião, já que Jesus (segundo os Evangelhos) demonstrou inúmeras vezes que esse tipo de regras e rituais opunha-se à busca da própria essência, e serve muito mais para afastar do que para unir as pessoas.
Independente de minhas opiniões, o fato é que muitas pessoas jejuam nessa época do ano, como um caminho para aproximá-las da divindade. O bom disso é poder exercitar a vontade. A vontade é uma potência do humano que permite que alguém exerça uma ação no mundo. Não se trata simplesmente do que chamamos habitualmente de vontade, como ‘estou com vontade de ir ao cinema’, ou ‘não estou com vontade de fazer nada’. Antes, é algo profundamente enraizado no Eu interior. Na medicina chinesa, a vontade está ligada à essência e à vitalidade, e é considerada herança de nossos ancestrais. Quanto mais perdemos a vitalidade, menos conseguimos expressar nossa vontade. E quanto menos expressamos nossa vontade, mais desvitalizados nos tornamos. A vontade é a força de realização de nossos propósitos, sejam eles transcendentais ou banais.
Muitas de nossas ações no mundo são determinadas por circunstâncias externas. Ligo o ar condicionado porque sinto calor, me cubro porque sinto frio. Também agimos pautados por outras pessoas, seja diretamente, ao cumprirmos a ordem de alguém, seja indiretamente, ao realizarmos algo porque alguém fez algo. Em suma, reagimos mais do que agimos. Quando agimos em favor daquilo que acreditamos ser importante para nós mesmos ou para os outros, que acreditamos estar em consonância com nossos propósitos, com nossas intenções, aí então estamos colocando nossa vontade em ação.
Portanto, jejuar por ser uma regra religiosa não significa que seja necessariamente meu propósito. Mesmo porque o jejum da quaresma é de carne vermelha. E quem é vegetariano? Já jejua naturalmente? Tem mais pontos para o céu? Abrir mão de algo que se gosta pode ser um bom exercício da própria vontade e, melhor ainda, fazer algo que você gosta ou gostaria de fazer e vive adiando, um maravilhoso exercício da vontade. Aquela caminhada regular que você está sempre planejando e nunca começa, por exemplo. Marcar efetivamente o dia de parar de fumar é um exercício da vontade extremamente benéfico para sua saúde! Organizar seus escritos e escrever novas poesias trará mais força para a sua vida, e pode trazer mais lirismo para outras pessoas.
A vontade precisa ser exercitada, assim como os músculos numa academia. Vontade requer disciplina, e estipular uma data para iniciar aquilo que você quer realizar é um bom começo. Leia dentro de si mesmo o que você gostaria de tornar em ação e imprima sua vontade no mundo. Você e o mundo agradecerão!
Pequena reflexão para o Natal
Posted 10 dezembro, 2013
on:Meditação de Micael
Posted 28 setembro, 2013
on:Temos de erradicar da alma todo o
medo e o terror do que o futuro possa
trazer ao homem.
Temos de adquirir serenidade em todos
os sentimentos e sensações a respeito do futuro.
Temos de olhar para a frente com
absoluta equanimidade, para com tudo
o que possa vir, e temos que pensar,
somente, que tudo o que vier nos será
dado por uma direção mundial plena de
sabedoria.
Isto é a parte do que temos de aprender
nesta era, a saber:
Viver com pura confiança, sem qualquer
segurança na existência; confiança na
ajuda sempre presente do mundo espiritual.
Em verdade, nada terá valor se a coragem
nos faltar.
Disciplinemos nossa vontade e busquemos
o despertar interior todas as manhãs e
todas as noites.
Rudolf Steiner
Saudade do meu pai
Posted 7 agosto, 2013
on:- In: amor | família
- 3 Comments
Quando criança, eu queria que meu pai me ouvisse, que conversasse comigo. Claro, para a minha geração isso seria um comportamento muito excepcional. O usual era o pai dar ordens inquestionáveis, numa hierarquia rígida como num quartel, sob o risco do pai “perder a autoridade”. Isso era o que importava para os pais, esse era o valor maior a ser perseguido e mantido numa família: a autoridade. Sem autoridade, seria o caos: seu filho viraria um maconheiro ou um mariquinha, sua filha seria uma piranha ou uma mãe solteira, ou ambos virariam comunistas… Frases como “se não me respeita, então que tenha medo de mim” eram comuns nos lares daqueles loucos anos 70. A repressão política que a ditadura militar exercia nas ruas era repetida atrás de cada muro, de cada postigo da porta da frente. Ou não seria o contrário? Os militares estariam apenas levando para a rua aquilo que era comum dentro de cada casa? O que veio primeiro, o ovo ou a galinha? Tanto faz, porque era a mesma merda!
Meu pai não fugia à regra. Ele trabalhava, chegava em casa, sentava no seu lugar marcado (só ele e minha irmã tinham lugar certo na mesa) e era o rei do lar. Reclamações, ordens e silêncio. Ninguém podia incomodar meu pai quando ia assistir televisão. E quando as válvulas da Telefunken falhavam e a imagem sumia, eu tinha que levantar correndo para dar uma porrada do lado da televisão para que a imagem voltasse. (É bem verdade que sinto um pouco de saudade desse método de fazer as coisas funcionar, mas um roteador sem sinal não resistiria nem a um peteleco…).
Ele era distante e autoritário, mas eu o amava. Eu chorava de saudade quando ele viajou para o Pará, no Projeto Rondon, e fui super feliz ao Galeão esperar o avião que trouxe o meu pai com cara de quem não queria ter voltado. De qualquer maneira, eu não parava de questionar. Queria ser aviador da FAB, assim como metade dos meus amigos, mas meu avô me alertou: ‘militar não pode questionar nada. Se receber uma ordem não pode perguntar o porquê. Você vai passar mais tempo preso do que voando’. Me convenceu… Eu não queria ser obrigado a me calar e engolir ordens arbitrárias. Eu queria era voar!!!! E por muito questionar, batia de frente com meu pai quase sempre, tendo que me submeter ou às suas palavras ou à sua mão pesada.
Na adolescência, meu pai se aproximou mais e ousou me enxergar e me escutar. Ensinou-me a dirigir, sem paciência nenhuma, mas levou, assim como meu avô materno. Conversava sobre o colégio, sobre o que eu queria para o futuro. Na minha entrada para o segundo grau, ele fez algo que admiro muito. Eu já queria estudar medicina e o vestibular sempre foi difícil. Uma escola em Niterói tinha muitos alunos aprovados todo ano para medicina. Meu pai tinha estudado lá como bolsista no cursinho pré-vestibular. Fui fazer a prova de admissão para a escola e, no dia da prova, ele me levou (o que era bastante incomum), e durante a prova o diretor da escola o reconheceu no pátio, eles conversaram e o diretor perguntou se ele queria uma bolsa de estudos para mim. Ele recusou, dizendo ‘agora eu posso pagar para o meu filho’. Esse é um exemplo que meu pai deixou, de coerência e dignidade, que eu procuro seguir.
Quando eu passei no vestibular, cheguei em casa com a edição extra do jornal na mão (naquele tempo não existia internet!!!!!) e mostrei-lhe. Ele ficou muito feliz e me deu um dinheiro para eu ir à padaria comprar uma Brahma pra gente comemorar. Sentamos à mesa da cozinha e tomamos aquela Brahma, só eu e meu pai, que ali me reconhecia como um homem, como um amigo!
Meu pai mudou, e tornou-se meu amigo na vida adulta. Como eu fui morar no interior, falávamo-nos por telefone com frequência, contando sobre a vida, minhas conquistas de jovem médico iniciando a carreira numa cidade estranha, as dificuldades de adaptação, as alegrias de estar num lugar tão agradável. Chegamos ao ponto de ele também me pedir opinião sobre decisões que precisava tomar. Meus filhos nos aproximaram mais ainda, e ele amou muito esses netos e demonstrou esse amor! Ele nos recebia com um abraço apertado e um beijo, como ele nunca fez enquanto eu era criança. Acho que ele perdeu o medo de perder a autoridade… Deve ter aprendido que o carinho e o amor valem muito mais do que a autoridade.
Meu pai morreu cedo, sequer chegou aos 60 anos… Já se vão 12 anos que eu o perdi e ainda não me acostumei. Quando alguma coisa muito boa acontece comigo, penso em ligar para ele, para em fração de segundos lembrar que já não dá mais. Gostaria de poder contar com seus conselhos quando passo por situações de dúvida. Seus conselhos tão previsíveis na minha infância, foram cada vez me surpreendendo mais na vida adulta. Somente por esses motivos lamento a sua morte, mas alguns meses antes de morrer, ele me disse que tinha conquistado tudo que havia desejado na vida, que nada mais lhe faltava, que só sentia falta do seu pai.
Recentemente, passei por uma situação que tive que ficar fazendo exames e a princípio pensei que não tinha medo de morrer. Mas quando lembrei a falta que sinto do meu pai, imaginei como meus filhos sentiriam a minha falta e tive medo de deixá-los. Com meu pai, mesmo que por vias tortuosas, aprendi que o pai precisa estar presente na vida dos filhos, não pressionando, mas se colocando à disposição para aqueles momentos que parecem sem saída, e poder oferecer uma solução ou, ao menos, solidariedade e aconchego. Saudade do meu pai!
Sabedoria Gaúcha
Posted 31 julho, 2013
on:Esta música de Vitor Ramil é antiga e eu a ouvia muito num LP que ainda devo ter em algum lugar. Ela parece falar direto ao meu coração e à minha mente, sempre tão inquietos, sempre tão necessitados de paz e de se deixar levar. Hoje estava caminhando e ouvindo essa música, que repeti infinitamente no celular, e fiquei pensando o que mais aprendi com os gaúchos. Lembrei-me de três situações em que alguns gaúchos me influenciaram muito.
Uma foi um contato que fiz com a escritora Martha Medeiros. Minha filha Bia, de 17 anos, escreveu um texto no seu blog, quando tinha 14 anos, fazendo um resumo sobre sua vida. Lá, ela dizia que Martha Medeiros era sua inspiração. Eu entrei em contato com a Martha pelo e-mail que havia no jornal O Globo e, surpresa!, ela respondeu, de forma super gentil e carinhosa. Ainda mais, leu o blog e nos convidou para ir ao lançamento de um livro seu na livraria Travessa, em Ipanema. Eu levei Bia, mas não disse para quê. Foi uma emoção enorme quando Bia foi recebida pela sua ídola de forma tão carinhosa. Reaprendi com ela (Martha Medeiros) que, por mais sucesso e bajulação que a vida lhe ofereça, nunca preciso deixar de ser eu mesmo e ter carinho pelas pessoas.
Outra gaúcha que me ensinou muito foi a Fabiana Macchi, que participou de um seminário biográfico que organizei em São Paulo, nos tempos de DAO Terapias, com Rosângela Cunha. Eu tenho um coração cigano e gosto de mudar de lugar. Pois bem, a Fabiana me deu uma aula de coragem ao contar como foi morar na Suíça e dar aulas de alemão para quem é nativo na língua, quando ela mal sabia a língua, tendo que mergulhar nos livros para dominá-la e conquistar o seu sonho, tendo sido professora numa importante universidade lá, procurada por pessoas de todo o mundo que desejam aprofundar seus estudos na língua alemã.
O outro gaúcho é o pastor Adelcio Kronbauer, da Igreja Luterana em Nova Friburgo, que sabe falar como ninguém sobre a essência das coisas, desmistificando a religião. Isso, além de ser um amigo com quem se pode contar em momentos difíceis.
Como se vê, do Sul vem muito mais do que as frentes frias… Obrigado, gaúchas e gaúchos!!!
A Individuação segundo Goethe
Posted 16 julho, 2013
on:“Quem sou eu? O que eu fiz? Eu recolhi tudo aquilo que observei e aprendi. Minhas obras foram alimentadas por uma multidão de indivíduos diversos, de ignorantes e sábios, de sagazes e tolos. Infância, idade madura e velhice – todas vieram me oferecer seus pensamentos, seus poderes, sua maneira de ser. Muitas vezes recolhi aquilo que outros semearam. Minha obra é a de um ser coletivo e leva o nome de Goethe.”
(17 de Fevereiro de 1832)
“Conversações com Goethe” by Johann Peter Eckermann.
“O ser humano não é completamente condicionado e definido. Ele define a si próprio seja cedendo às circunstâncias, seja se insurgindo diante delas. Em outras palavras, o ser humano é, essencialmente, dotado de livre-arbítrio. Ele não existe simplesmente, mas sempre decide como será sua existência, o que ele se tornará no momento seguinte.”
Viktor Frankl
- In: biográfico | destino | homeopatia | medicina
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Maurício Siaines
Hércules: o Herói dentro de cada um
Posted 3 julho, 2013
on:
A saga de Hércules, que foi imortalizado ao realizar com sucesso 12 árduas tarefas, é uma das passagens mais conhecidas da mitologia da antiga Grécia. O herói enfrentou a ira dos deuses e lutou contra seres horríveis para transcender sua condição de simples mortal. “Hércules não aceitava a imperfeição de sua condição humana e saiu em busca de algo maior, transcendental, assim como muitos de nós fazemos hoje. À primeira vista, o mito parece apenas um relato fantástico, mas por meio dele podemos descobrir formas de superar desafios”, acredita o professor Efraim Rojas Boccalandro, coordenador do curso de mitologia grega da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
“O mito de Hércules ensina que nós também podemos vencer nossos defeitos e nos tornar pessoas melhores, mais éticas e dignas. Esse caminho exige esforço, persistência e coragem, principalmente para encarar monstros internos, como a agressividade, o egoísmo e a falta de respeito ao próximo”, interpreta Viktor Salis, grego radicado em São Paulo, especialista em mitologia grega e autor do livro Os Doze Trabalhos de Hércules para o Caminho do Herói em Busca da Eternidade (edição do autor).
Superar obstáculos
O herói era filho de Zeus, deus supremo, e de uma mortal. Por isso, tornou-se alvo do ódio e das armadilhas da ciumenta Hera, esposa de Zeus, que não poupou esforços para destruir Hércules. Foi por causa dos estratagemas de Hera que o herói se viu obrigado a realizar os 12 trabalhos. E, embora tenha alcançado grandes vitórias, Hércules amargou também várias derrotas. “O que o distingue é sua maneira de encarar os desafios. Em vez de imobilizá-lo, os obstáculos funcionavam como alavanca, levando-o a se superar. É outra lição que podemos aprender”, afirma a paulista Ana Figueiredo, colaboradora da Fundação Joseph Campbell, instituição americana dedicada ao estudo dos mitos.
Apesar de Hércules ser retratado como um homem extremamente musculoso, muitas de suas vitórias foram fruto não de sua força, mas do uso da inteligência e da sabedoria.
Doze tarefas
Os desafios enfrentados por Hércules são metáforas das diversas fases do processo de desenvolvimento interior. Eles estão relacionados aos 12 deuses do Olimpo, o panteão divino dos gregos, e com os 12 signos do zodíaco, que representam forças cósmicas. Para o especialista em mitologia Viktor Salis, os trabalhos podem ser divididos em quatro etapas.
Os três primeiros tratam da violência, dos vícios e da criação de limites. O quarto, o quinto e o sexto estão relacionados com a descoberta dos talentos, com ritos de purificação física e mental e com a transformação do instinto em intuição. O sétimo, o oitavo e o nono trabalhos, por sua vez, falam da sexualidade e da arte de amar. Enquanto o décimo, o décimo primeiro e o décimo segundo são dedicados à criação, ao desapego e à conquista da espiritualidade.
Conheça a seguir as façanhas do herói:
1 O leão de Neméia: o aperfeiçoamento começa dentro de nós
O desafio de Hércules foi vencer um leão de pele invulnerável, que devastava rebanhos e devorava todos os que tentavam matá-lo. Aconselhado por Atena, deusa da sabedoria, a não usar a força, o herói estrangula a fera em sua caverna. “Nesse teste, Hércules ensina que a luta pelo aperfeiçoamento começa dentro de nós. Os leões de hoje são a violência e a agressividade e o desafio é buscar a harmonia, procurando antes de mais nada nossos recursos internos”, explica o mitólogo Viktor Salis.
2 A hidra de Lerna: combate aos vícios
Hércules teve de destruir um monstro de nove cabeças que soltavam fogo: oito renasciam quando cortadas e a nona era imortal. O herói decepou as oito cabeças enquanto um amigo as cauterizava com fogo. A nona foi enterrada, mas vigiada eternamente por Hércules. “As cabeças simbolizam os vícios. Lutamos contra eles, mas, como são imortais, se não estivermos atentos, renascem. Além dos vícios físicos, como drogas e álcool, temos de combater os vícios éticos, como a ganância”, acredita Salis.
3 O javali de Erimanto: vencer o egoísmo
Foram necessários dois anos para Hércules capturar um javali feroz que devastava tudo por onde passava. Esse trabalho está relacionado ao aprendizado da vida em sociedade, segundo Salis. “O javali é um monstro sem fronteiras, que não respeita limites. Cada um de nós tem dentro de si essa fera, que é preciso dominar, aprendendo a reconhecer nosso espaço e o das outras pessoas. É um teste para vencer o egoísmo e a tendência a achar que o mundo gira em torno do próprio umbigo”, interpreta o especialista.
4 A corça cerinita: cultivar a delicadeza
A missão de Hércules era capturar viva uma corça extremamente veloz, com chifres de ouro e cascos de bronze, que pertencia a Ártemis, deusa da caça. Orientado por Atena, o herói dominou o animal sagrado segurando-o pelos chifres. “Os chifres representam a iluminação, e os cascos de bronze, o mundo material. O aprendizado nesse trabalho é substituir os impulsos por qualidades mais nobres, como sabedoria, delicadeza e paciência”, explica Efraim Rojas Boccalandro.
5 Os estábulos de Áugias: purificação do sentimentos
Hércules se ofereceu para limpar em um só dia os currais imundos de um rei que possuía um rebanho numeroso. Desviando dois rios para os estábulos, Hércules cumpriu a promessa, que parecia impossível. Segundo Viktor Salis, nossa sujeira acumulada é composta por raiva, angústia e emoções negativas. “Para fazer uma limpeza interior, devemos observar diariamente e com honestidade a qualidade de nossas reações e emoções”, recomenda.
6 Os pássaros do lago Estínfalo: recuperar a lucidez
Para derrotar aves antropófagas que tinham penas de bronze e as lançavam como flechas, Hércules atordoou-as com o som ensurdecedor de um címbalo. “O teste de Hércules é igual ao de qualquer um de nós: conseguir reconhecer e usar a intuição. Os pássaros simbolizam a falta de lucidez e o som é nossa voz interior. O trabalho em excesso, a pressa e o estresse são pássaros que nos atordoam. O antídoto para essa situação é nos aquietarmos para ouvir o que verdadeiramente queremos fazer”, acredita Viktor Salis.
7 O touro de Creta: governar os instintos
Nesse trabalho, Hércules domou o furioso touro de Creta, ao qual eram oferecidos jovens em sacrifício. Essa tarefa chama a atenção para o controle dos instintos, especialmente da sexualidade. “Hércules precisava manter o animal vivo: tinha que domar e governar seu instinto, mas não matá-lo. Em um mundo com tantos apelos eróticos e sensuais, esse é um desafio para todos, em especial para os jovens”, diz Salis.
8 As éguas de Diomedes: a arte de amar
Hércules teve de enfrentar quatro éguas que se alimentavam de náufragos estrangeiros. Como no trabalho anterior, esse é mais um passo para o herói se aperfeiçoar na arte de amar. “Essa é uma iniciação: aprender a entregar o coração com sinceridade, não se deixar levar pela tentação, movido apenas pela atração física”, afirma Viktor Salis.
9 O cinturão de Hipólita: a coragem de ser autêntico
A missão do herói era conseguir o cinturão da rainha das amazonas, mulheres conhecidas por sua bravura. Mas não poderia obtê-lo pela força: precisaria ganhá-lo conquistando o coração da guerreira. “Esse trabalho fala sobre a importância de construirmos laços afetivos duradouros”, diz Viktor Salis. “Ensina que a arte de conquistar uma pessoa não se faz pela força nem criando ilusões e falsas aparências, mas pelo respeito ao outro e pela coragem de mostrar quem verdadeiramente somos.”
1O Os bois de Gerião: a lição do desapego
Hércules empreendeu uma grande viagem para derrotar o rei Gerião e se apoderar de seus bois. Enfrentou também o gigante Anteu, invencível porque, cada vez que tocava a terra, recobrava as forças. Para derrotá-lo, ergueu-o no ar. “Essa é uma lição de desapego, sobre derrotar a cobiça e o materialismo. Gerião e os bois simbolizam as posses. A verdadeira riqueza, que é eterna, está dentro de nós. São nossos sentimentos e valores”, explica Salis.
11 Os pomos de ouro do jardim das Hespérides: descoberta de talentos
O herói teve que superar vários percalços para obter os frutos de ouro de uma árvore maravilhosa, que representam a força fecunda e criadora dos homens, protegidos por um dragão imortal. “Assim como Hércules teve que ir aos extremos do mundo para descobrir esses frutos, nós também precisamos fazer uma viagem a nosso mundo interior para descobrir nossos talentos e potenciais, que são os pomos de ouro”, diz Salis.
12 A captura de Cérbero: valorizar as qualidades da alma
O desafio era descer ao inferno para vencer Cérbero, cão de três cabeças que guardava o Mundo Inferior. O herói agarrou o animal pelo pescoço e não o soltou até que concordasse em acompanhá-lo. “Esse trabalho fala da imortalidade. Ensina que o corpo pode perder o viço, mas a alma deve irradiar cada vez mais a beleza construída ao longo dos anos. É um ensinamento importante para estes tempos, em que o envelhecimento e as transformações do corpo não são aceitas com naturalidade”, conclui Salis.