Tecer da Vida

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A Quaresma, no cristianismo, é o período que vai da quarta-feira de cinzas ao sábado de Aleluia. Para os católicos, é tempo de jejuar. Pessoalmente, não vejo como coerente a prescrição de jejuar em nome da religião, já que Jesus (segundo os Evangelhos) demonstrou inúmeras vezes que esse tipo de regras e rituais opunha-se à busca da própria essência, e serve muito mais para afastar do que para unir as pessoas.
Independente de minhas opiniões, o fato é que muitas pessoas jejuam nessa época do ano, como um caminho para aproximá-las da divindade. O bom disso é poder exercitar a vontade. A vontade é uma potência do humano que permite que alguém exerça uma ação no mundo. Não se trata simplesmente do que chamamos habitualmente de vontade, como ‘estou com vontade de ir ao cinema’, ou ‘não estou com vontade de fazer nada’. Antes, é algo profundamente enraizado no Eu interior. Na medicina chinesa, a vontade está ligada à essência e à vitalidade, e é considerada herança de nossos ancestrais. Quanto mais perdemos a vitalidade, menos conseguimos expressar nossa vontade. E quanto menos expressamos nossa vontade, mais desvitalizados nos tornamos. A vontade é a força de realização de nossos propósitos, sejam eles transcendentais ou banais.
Muitas de nossas ações no mundo são determinadas por circunstâncias externas. Ligo o ar condicionado porque sinto calor, me cubro porque sinto frio. Também agimos pautados por outras pessoas, seja diretamente, ao cumprirmos a ordem de alguém, seja indiretamente, ao realizarmos algo porque alguém fez algo. Em suma, reagimos mais do que agimos. Quando agimos em favor daquilo que acreditamos ser importante para nós mesmos ou para os outros, que acreditamos estar em consonância com nossos propósitos, com nossas intenções, aí então estamos colocando nossa vontade em ação.
Portanto, jejuar por ser uma regra religiosa não significa que seja necessariamente meu propósito. Mesmo porque o jejum da quaresma é de carne vermelha. E quem é vegetariano? Já jejua naturalmente? Tem mais pontos para o céu? Abrir mão de algo que se gosta pode ser um bom exercício da própria vontade e, melhor ainda, fazer algo que você gosta ou gostaria de fazer e vive adiando, um maravilhoso exercício da vontade. Aquela caminhada regular que você está sempre planejando e nunca começa, por exemplo. Marcar efetivamente o dia de parar de fumar é um exercício da vontade extremamente benéfico para sua saúde! Organizar seus escritos e escrever novas poesias trará mais força para a sua vida, e pode trazer mais lirismo para outras pessoas.
A vontade precisa ser exercitada, assim como os músculos numa academia. Vontade requer disciplina, e estipular uma data para iniciar aquilo que você quer realizar é um bom começo. Leia dentro de si mesmo o que você gostaria de tornar em ação e imprima sua vontade no mundo. Você e o mundo agradecerão!

Marcelo Guerra

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A Quaresma, no cristianismo, é o período que vai da quarta-feira de cinzas ao sábado de Aleluia. Para os católicos, é tempo de jejuar. Pessoalmente, não vejo como coerente a prescrição de jejuar em nome da religião, já que Jesus (segundo os Evangelhos) demonstrou inúmeras vezes que esse tipo de regras e rituais opunha-se à busca da própria essência, e serve muito mais para afastar do que para unir as pessoas.
Independente de minhas opiniões, o fato é que muitas pessoas jejuam nessa época do ano, como um caminho para aproximá-las da divindade. O bom disso é poder exercitar a vontade. A vontade é uma potência do humano que permite que alguém exerça uma ação no mundo. Não se trata simplesmente do que chamamos habitualmente de vontade, como ‘estou com vontade de ir ao cinema’, ou ‘não estou com vontade de fazer nada’. Antes, é algo profundamente enraizado no Eu interior. Na medicina chinesa, a vontade está ligada à essência e à vitalidade, e é considerada herança de nossos ancestrais. Quanto mais perdemos a vitalidade, menos conseguimos expressar nossa vontade. E quanto menos expressamos nossa vontade, mais desvitalizados nos tornamos. A vontade é a força de realização de nossos propósitos, sejam eles transcendentais ou banais.
Muitas de nossas ações no mundo são determinadas por circunstâncias externas. Ligo o ar condicionado porque sinto calor, me cubro porque sinto frio. Também agimos pautados por outras pessoas, seja diretamente, ao cumprirmos a ordem de alguém, seja indiretamente, ao realizarmos algo porque alguém fez algo. Em suma, reagimos mais do que agimos. Quando agimos em favor daquilo que acreditamos ser importante para nós mesmos ou para os outros, que acreditamos estar em consonância com nossos propósitos, com nossas intenções, aí então estamos colocando nossa vontade em ação.
Portanto, jejuar por ser uma regra religiosa não significa que seja necessariamente meu propósito. Mesmo porque o jejum da quaresma é de carne vermelha. E quem é vegetariano? Já jejua naturalmente? Tem mais pontos para o céu? Abrir mão de algo que se gosta pode ser um bom exercício da própria vontade e, melhor ainda, fazer algo que você gosta ou gostaria de fazer e vive adiando, um maravilhoso exercício da vontade. Aquela caminhada regular que você está sempre planejando e nunca começa, por exemplo. Marcar efetivamente o dia de parar de fumar é um exercício da vontade extremamente benéfico para sua saúde! Organizar seus escritos e escrever novas poesias trará mais força para a sua vida, e pode trazer mais lirismo para outras pessoas.
A vontade precisa ser exercitada, assim como os músculos numa academia. Vontade requer disciplina, e estipular uma data para iniciar aquilo que você quer realizar é um bom começo. Leia dentro de si mesmo o que você gostaria de tornar em ação e imprima sua vontade no mundo. Você e o mundo agradecerão!

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“Quem sou eu? O que eu fiz? Eu recolhi tudo aquilo que observei e aprendi. Minhas obras foram alimentadas por uma multidão de indivíduos diversos, de ignorantes e sábios, de sagazes e tolos. Infância, idade madura e velhice – todas vieram me oferecer seus pensamentos, seus poderes, sua maneira de ser. Muitas vezes recolhi aquilo que outros semearam. Minha obra é a de um ser coletivo e leva o nome de Goethe.”

(17 de Fevereiro de 1832)

“Conversações com Goethe” by Johann Peter Eckermann.

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“O ser humano não é completamente condicionado e definido. Ele define a si próprio seja cedendo às circunstâncias, seja se insurgindo diante delas. Em outras palavras, o ser humano é, essencialmente, dotado de livre-arbítrio. Ele não existe simplesmente, mas sempre decide como será sua existência, o que ele se tornará no momento seguinte.”

Viktor Frankl

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“O ser humano não é completamente condicionado e definido. Ele define a si próprio seja cedendo às circunstâncias, seja se insurgindo diante delas. Em outras palavras, o ser humano é, essencialmente, dotado de livre-arbítrio. Ele não existe simplesmente, mas sempre decide como será sua existência, o que ele se tornará no momento seguinte.”

Viktor Frankl

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Uma pessoa sempre está projetando-se para além de si mesmo, dedicando-se a alguém ou a alguma coisa, em nome do amor. Desta forma, a pessoa pode encontrar sentido no mundo exterior. O homem transcende sua existência ao amar outra pessoa ou dedicar-se a alguma causa, ao invés de ficar fixado em seu umbigo, contemplando-se. A auto-realização é conseqüência desta transcendência, e isto pode ser percebido em diversos exemplos de personalidades famosas, como Martin Luther King, Madre Tereza de Calcutá (mesmo com seus conflitos em relação à fé), Gandhi, etc. Guardadas as devidas proporções, podemos encontrar esta transcendência em situações do nosso cotidiano como, por exemplo, na dedicação a nossos papéis familiares, como pais, filhos, irmãos. Assim, a melhor maneira de conseguir a felicidade é dedicando-se a causas desinteressadas.

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“Não há oposição entre o conhecimento de si mesmo que a psicologia propõe e o conhecimento de si mesmo que a espiritualidade propõe. Porque uma psicologia que não se abre a um itinerário espiritual corre o risco de nos enclausurar e, mesmo, nos desesperar. (…) Assim, o que impressiona em um ser humano que entrou neste caminho de transformação é, ao mesmo tempo, sua grandeza e humildade. Ele sabe que é pó e que ao pó retornará. Mas sabe também que é luz e que à luz retornará. E o que é o ser humano, senão esta poeira que caminha para a luz e que dança nela? É a este caminhar, a esta marcha que nós somos convidados por Fílon de Alexandria, Francisco de Assis e Graf Durckheim. E a vocês todos, desejo uma boa caminhada, um belo itinerário, com cumes e vales a atravessar. Porque o importante mesmo é caminhar!”

Extraído do Prefácio do livro Terapeutas do Deserto, de Leonardo Boff e Jean-Yves Leloup

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As almas em seus carros alados, quando antes de encarnar, chegam a um grande descampado, dão uma olhada para o alto. Contemplam em seus pedestais, a Justiça, a Beleza, o Pensamento, a Temperança, o mundo das idéias eternas e imutáveis, que ficam na “planície da Verdade”, diz Platão. Logo em seguida, elas escolhem o que vai ser a “sua vida efêmera”, à qual permanecerão ligadas por obra de Necessidade. Deusa caprichosa, ela, que tece seu fuso, e suas filhas, as temidas Parcas, cortam o fio da existência quando querem. Bebendo no rio do Esquecimento, prossegue o mito, perdemos a memória dessa escolha inicial de nossas almas – sem culpa nem responsabilidade de ninguém mais – cujo vínculo permanece no EU interior, nosso guia e destino ao mesmo tempo.

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O sentido da vida apresenta-se de duas formas, uma mais imediata e uma mais transcendental, e ele manifesta-se pela vocação, que é uma palavra derivada da palavra “voz”. A vocação, portanto, é um chamado para uma tarefa a ser realizada no presente, mas que aponta para o futuro.

Em determinados momentos da vida, ouvimos internamente um chamado, assim como nos contos de fadas e nos mitos. Como reagimos ao chamado? Nos lançamos à aventura de viver o destino que trazemos impresso em nosso eu interior ou fingimos que não o ouvimos e, com medo do desconhecido, nos fechamos em padrões de comportamento aos quais já nos habituamos, mesmo que não sejam agradáveis, mas pelo menos já estamos acostumados a eles?

A filosofia e a ciência, desde o início da Renascença têm se esforçado para fazer crer que não existe um sentido transcendental para o ser humano. Provavelmente como reação aos abusos cometidos na Idade Média em nome de Deus, cujo nome foi usado para justificar toda sorte de explorações e absurdos.

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O rápido desenvolvimento tecnológico que começou no século XX nos faz sentirmo-nos parte de uma engrenagem, que funciona por si mesma e que não possui um sentido transcendente. Qual a conseqüência disso? A depressão, a superficialidade das relações, o vazio existencial. Afinal, se eu sou apenas uma parte de um mecanismo, eu posso ser substituído sem prejuízos para tal mecanismo. É para isto que eu sirvo? O ser humano enquanto indivíduo, enquanto ser único, imbuído de uma missão de vida, imbuído de qualidades únicas, ficou relegado a um segundo plano, talvez terceiro ou quarto.

E, no entanto, o ser humano sofre! Sofre por não perceber o sentido maior de sua vida. O resgate deste sentido, desta missão, deste destino, é hoje prioridade para o homem, para que possa alcançar maior realização em sua vida e levar felicidade e realização à vida dos outros.

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O destino lança seu fio sobre o qual a vida se desenrola (e, às vezes, se enrola). Tecer a vida significa colocar este fio de forma harmoniosa no conjunto de nossa existência, invidualmente e enquanto participante da sociedade.